quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tortura obrigatória



Há ano e meio que sei por experiência própria que a prática desportiva é óptima para a saúde. Se o facto de frequentar um ginásio com regularidade trouxe inúmeras (e visíveis) alterações à minha pessoa, há outras coisas que permanecem inalteráveis.

Não há um único dia em que vá ao ginásio com genuína vontade. Faço-o por obrigação porque sei que dessa forma estou a tratar da minha máquina. Aliás, a melhor parte do treino é mesmo quando termina. Nunca subi a uma passadeira, bicicleta ou elíptica com prazer. Nunca levantei um haltere, fiz uma flexão ou abdominais com gosto.

Fico satisfeito por muitos não sentirem o mesmo que eu. Há entusiastas da malhação que só de os ver fico cansado. Acho impressionante a quantidade de peso que conseguem levantar e a forma desaustinada como pedalam numa aula de cycling (com neons e música em volume altíssimo). Apesar de céptico, talvez um dia atinja o patamar dos verdadeiros profissionais do gym.

Sentir dor, ardor, calor, cansaço e transpiração num mesmo local jamais será um prazer para mim. Adoro cinema, viajar, visitar museus e estar numa esplanada a ler uma revista. Garanto-vos que se estes prazeres da vida implicassem ter, de uma assentada, os sintomas que tenho quando vou ao ginásio, o deleite passaria a ser tortura.

Sei que muitos também pensam como eu (bem vejo as expressões corporais e, sobretudo, faciais de quem me rodeia no ginásio), mas isso não nos impede de voltar, no dia seguinte, a fazer a mala e regressar a um local onde somos punidos pelos excessos que são cometidos no dia-a-dia. O melhor de tudo é que a infelicidade - era bom que fosse sempre assim - tem hora certa para terminar. Ao fechar a porta do ginásio, a sensação de dever cumprido é impagável. Sentimo-nos rejuvenescidos e prontos para encarar com forças redobradas as horas que temos pela frente.

Amanhã volta a ser dia de luta.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Séries ilimitadas

Depois de ver cada episódio era certinho: tudo para a rua a imitar as coreografias de lutas que acabáramos de ver



Julianna Marguiles brilha de forma intensa em "The Good Wife", série que está a passar na Fox Life




Há dias em que dou por mim a pensar que o melhor era ter apenas dois canais de televisão. Foi assim até 6 de Outubro de 1992, dia em que nasceu a SIC. Nessa altura não havia dilemas lá em casa (a dos meus pais, entenda-se): ou víamos a RTP1 ou a 2. Não precisávamos de mais para termos um final de tarde ou um serão bem passado. "Macgyver", "Soldados da Fortuna", "Os Três Dukes", "Os Jovens Heróis de Shaolin", "Bonanza", "Um Anjo na Terra", "V-Batalha Final", "Crime disse ela", "O Justiceiro", "O Barco do Amor" eram algumas das séries da altura.


Cada novo episódio tinha o condão de reunir a família na sala em torno da televisão (lá em casa, na década de 80 e inícios de 90, existia apenas uma e era a preto e branco). Para mudar de canal ou baixar/aumentar o volume era preciso levantar o rabo do sofá. Lembro-me que o primeiro vídeo que tivemos foi comprado em Janeiro de 1990. Foi um momento tão marcante que acho que eu e os meus irmãos não saímos de casa durante duas semanas para paparmos todos os filmes de ninjas disponíveis na altura.


Os tempos agora são diferentes e os níveis de exigência são, seguramente, outros. Com a chegada da TV por cabo, a oferta de séries oriundas dos EUA aumentou exponecialmente. A qualidade da ficção é inegável e o problema é arranjar tempo para ver todas. A box cá de casa está carregadinha de gravações. "The Good Wife", "Sem Escrúpulos", "Uma Família Muito Moderna" são actualmente as que acompanho religiosamente por considerá-las excelentes. Uns furos abaixo, mas interessante sob o ponto de vista histórico, está "The Kennedys", série que mostra que Katie "Cruise" Holmes, no papel de Jackie Kennedy, tem qualidades para sair da sombra do marido no que à representação diz respeito.


A listagem das minhas séries preferidas não fica por aqui: "Boardwalk Empire" e "Dexter" (acabei de me erguer e fazer uma vénia àquela que é, para mim, a melhor entre as melhores) são também imperdíveis. O problema é que não há forma de reduzir o tempo que dedico ao visionamento destas séries viciantes. A Fox Life, por exemplo, vai arrancar no dia 10 de Outubro com mais duas que vão fazer entupir ainda mais a box cá de casa: "Mildred Pierce" (com Kate Winslet) e "Downton Abbey" (dos criadores de "Gosford Park").


A este ritmo vou ter de, mais cedo ou mais tarde, seguir a estratégia utilizada por um colega e que me foi relatada há três ou quatro anos na altura em que a febre de "Perdidos" e "Prision Break" contaminou o nosso país. Dizia-me ele que cinco minutos em frente ao televisor eram suficientes para decidir sobre a qualidade de uma determinada série e, se fossem boas, como era o caso, desligava a televisão para não correr o risco de ficar viciado. É verdade que é simples e eficaz, mas, meu caro, não sabes o que tens andado a perder.


E vocês o que têm andado a ver? E o que recomendam?

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Amadeus




Parece mentira, mas não é. Só na véspera de completar 34 anos de idade é que entrei pela primeira vez no Teatro Nacional D. Maria II para assistir a um espectáculo: "Amadeus". O receio de sair defraudado era grande, uma vez que se tratava de uma versão teatral baseada no texto de Peter Shaffer que, em 1984, deu origem ao filme homónimo - de que tanto gosto - realizado por Milos Forman.


Felizmente, os meus receios não se confirmaram. Gostei bastante de ver em palco a história de Antonio Salieri, interpretado por um competente Diogo Infante, e de Wolfgang Amadeus Mozart (um extraordinário Ivo Canelas). Confesso que é-me impossível avaliar a peça e abstrair-me do filme. O Salieri do filme de Forman é encarnado por F. Murray Abraham de forma portentosa e tenho esse desempenho como um dos melhores de sempre na história da Sétima Arte. Daí não ter ficado entusiasmado pela interpretação (repito) competente de Diogo Infante.


O mesmo não acontece com Ivo Canelas, que arranca uma performance magistral, abarcando os estados de espírito mais díspares, desempenho que nada fica a dever ao de Tom Hulce no filme que conquistou oito Oscares da Academia (entre os quais filme, realizador e - só podia - actor principal para F. Murray "Salieri" Abraham).


A peça, que tem encenação de Tim Carroll, está em cena na Sala Garrett até 6 de Novembro. Dê lá uma saltada, não se vai arrepender. Já eu, só me arrependo de ter estado tanto tempo sem pôr os pés no Teatro Nacional. Para me redimir, tenho já registada a minha próxima visita à Sala Garrett: "Quem tem medo de Virginia Woolf? (a cantar) Virginia Woolf, Virginia Woolf..."