segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Todos-os-Santos

Amanhã é dia de Todos-os-Santos, apesar do dia dos defuntos (segundo a Wikipedia) ser celebrado a 2 de Novembro. Manda a tradição que os crentes visitem os seus entes entretanto falecidos. Não é de um dia para o outro que tradições enraizadas durante séculos se quebram. Para muitos o ritual de ir ao cemitério visitar os que já partiram é reconfortante e nada, nem ninguém, o poderá alterar.
No entanto, parece-me óbvio que este é um daqueles feriados que não fazem qualquer sentido. Todos concordarão que a visita aos túmulos não tem data nem hora marcada. Ninguém precisa de um feriado para o fazer quando existem 365 dias para deixar flores junto daqueles que - como dizia o meu avô - já estão "na terra da cadela".
Os tempos são outros. Nem todos os defuntos são sepultados, cada vez mais recorre-se à cremação. Em muitos desses casos, dependendo do fim que se deu às cinzas, basta olhar o mar, passear num bosque, olhar para um recipiente de porcelana junto à lareira ou visitar um cantinho recôndito onde alguém foi muito feliz. Tão feliz que deixou expresso o desejo de transmitir aos seus mais próximos que era aí que gostaria de repousar para todo o sempre.
Sempre que parte alguém a quem pertencemos ou, mais trágico ainda, que nos pertencia (não imagino maior sofrimento do que um pai/mãe quando perde um filho) a dor é imensa. Cada pessoa expressa-a à sua maneira, com ou sem lágrimas no rosto, na solidão ou em público, e sem o auxílio de velhas carpideiras.
A primeira vez que a palavra "morte" entrou na minha vida estudava na escola primária e surgiu sem aviso. O Luís, meu colega de sala, fora encontrado morto em casa, com uma corda ao pescoço na casa de banho. Imaginem a confusão que é para uma criança de 7/8 anos ouvir que outra da mesma idade se enforcou. Porquê? Ainda hoje não tenho qualquer certeza. Não era amigo do Luís, era apenas mais um colega, mas lembro-me dele mais do que uma vez por ano.
Uns anos mais tarde - tinha 12 - perdi a minha avó (a única que conheci). Fiquei desolado, mas ainda hoje me recrimino por não ter chorado. Quando tinha 16 anos aconteceu o mesmo com a morte do meu amigo Nuno. Lembro-me de todos os meus amigos chorarem excepto eu. Já em 2008, foi o meu avô. Nunca precisei do feriado de 1 de Novembro para o visitar. Lembro-me de todos eles com frequência e, enquanto isso acontecer, sei que estou a homenagear as suas memórias.

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