quinta-feira, 19 de abril de 2012

No ginásio

Quando vou ao ginásio faço por ser apenas um figurante num filme com muitos actores secundários e alguns (felizmente poucos) candidatos a estrelas. As pessoas incluídas nas duas primeiras categorias adoptam uma postura discreta: dizem "bom dia", trocam um sorriso (de quando em vez), pedem ajuda no manuseamento de alguma máquina, fazem o que é suposto fazer num ginásio, dizem "até amanhã", e vão à sua vida.
Não sei se os homens e mulheres com os quais partilho o mesmo espaço num período do dia são casados ou divorciados, se têm filhos ou enteados, nem qual a sua ocupação profissional. Não sei, nem tenho qualquer interesse em saber. Não quero com isto dizer que não entenda os que são mais curiosos, comunicativos, e que têm no ginásio a possibilidade de colocar a "escrita em dia" e conviver. Nalguns casos, acredito que algumas das pessoas que o frequentam vêem no tempo de "malhação" uma forma de combater a solidão.
Num ginásio, os homens falam como se estivessem no café e debruçam-se sobre os mesmos temas de sempre: carros, futebol, mulheres, trabalho... No balneário, além de debaterem quais os melhores suplementos existentes no mercado para "encorpar mais depressa", há os que gostam de partilhar com o amigo com o qual frequentam o ginásio questões relacionadas com a sua vida pessoal: a gaja que anda agora a ver e que é melhor do que a brasileira que antes visitava.
Estejam descansados que não vou reproduzir aqui o palavreado distinto que foi utilizado na conversação. Talvez o melhor termo seja "comício", já que só faltou usar um megafone para que todos ouvissem as suas estórias partilhadas em elevados decibéis (isto apesar de o som ser abafado pelo barulho dos chuveiros, cacifos, etc).
Entre as inúmeras pérolas proferidas, destaco apenas uma: "isto está bom é para ser o outro. Os maridos que as aturem!". O que eu me pergunto é: como é que é possível existir neste mundo alguém capaz de aturar tamanha boçalidade?

3 comentários:

Claudia disse...

Acho que não o fazia para combater a solidão!!! No balneário das mulheres os temas divergem, mas o conteúdo não é melhor!!!

Ricardo disse...

Lol. Tu, solidão?! Nem pensar, apesar de às vezes deveres ter vontade de estar alguns momentos sem ver ninguém ;)
Quando falei em solidão tinha em mente algumas das pessoas mais velhas que õ frequentam. Não quero com isto dizer que isto seja a regra (sinceramente, acho que não é). As pessoas estão é mais sensibilizadas para a importância da prática desportiva.

Vanessa disse...

Se dissesses outra coisa, também não sobreviverias, correto, cunhado meu? eh eh...as pessoas não têm de se aturar, quando chega ao ponto em que o verbo aturar começa a fazer parte da conjugação diária, o melhor (mas que dá bem mais trabalho, claro) é seguir em frente. Atenção; não quero aqui julgar quem o faz, cada um sabe de si e nunca se pode dizer nunca mas ainda quero acreditar que há relações viáveis e felizes. Tenho um excelente exemplo por terras sadinas :)
P.S. Olha que há mesmo muita gente que vai ao ginásio para dar de beber à necessidade dos Outros...no meu ginásio há uma "fatia" de população que claramente o faz...e ainda bem então que existem estes solos neutros, pedaços de companhia para aqueles que conhecem demasiado bem as rotinas da solidão.